O feminismo da Bandida
Precisamos falar da Mc Carol. Não só porque ela está ascendendo no mundo do funk, está sendo escutada por diversas camadas da sociedade, mas também porque ela representa um segmento marginalizado muito importante na luta do feminismo e do feminismo negro.
Mc Carol é de Niterói, Rio de Janeiro, e recentemente lançou um disco chamado: Bandida, em que discute questões de traição, de prazer sexual da mulher, empoderamento etc. É um disco bem polêmico, no entanto mega importante para a construção do funk nacional.
Certo dia, estava conversando com uma amiga minha sobre, e ela disse: "Ah, amiga, não adianta você fazer uma música de empoderamento, e depois falar que acabaria com a amante." Fiquei com isso na cabeça. Qual feminismo a periferia tem contato, o que ele significa?
Sabemos que os morros são os últimos a saberem as questões acadêmicas (sim amigas, a luta feminista é bem acadêmica embranquecida na maior parte das vezes), a entenderam as lutas sociais que brigam por eles, porque são marginalizados, não têm acesso. Além disso, já esta bem claro que quem mais precisa de ideais libertários são as favelas, porque é nelas que acontecem as opressões todas, de forma mascarada.
Então, adianta sim a Mc Carol falar sobre feminismo e rivalidade feminina. É essa a realidade dela, é disso que ela vai escrever. Dentro da favela existem as opressões muito mais enraizadas e internalizadas nas pessoas, aquela velha conversa: o maior opressor é o oprimido.
Por isso, quando a Bandida fala sobre seu empoderamento, sobre a desconstrução em relação ao seu corpo, sobre o seu papel no funk, sobre ser negra, neta de Dandara, temos que vangloriar e aplaudir de pé, porque sim é uma conquista. Ao mesmo tempo, que não podemos invalidar tudo isso por conta da rivalidade feminina na música seguinte, não é certo. Mc Carol está entrando agora no movimento, está se empoderando agora, temos que apoiar.
A rivalidade feminina é uma das pautas do feminismo. Uma pauta que fica só na superfície e só atinge as mulheres que podem não ser rivais, que se sabem bonitas, que tem auto-confiança. Porque pra quem é marginalizado, isso não funciona. Pra quem é marginalizado, é na rivalidade que se acha força para se ter poder e falar na cara.
O feminismo que Mc Carol apresenta é controverso? Sim. O feminismo que Mc Carol apresenta tem falhas e falhas? Sim. Mesmo assim, se analisarmo no todo, podemos perceber o quanto ela já cresceu e o quanto precisa de nós manas que estamos crescendo também. Também precisamos dela.
No mundo do Funk a presença de homens, brancos, heterossexuais e mulheres brancas, heterossexuais é cada vez maior. Todo dia é lançado um hit novo com essas duas representações, então Mc Carol ficar firme e forte e lançar um disco de funk é mais do que uma mera representação, é resistência. Temos outras figuras como Karol Conka e Ludmila.
Mc Carol colocou política, história, movimento sociais, prazer da mulher na esfera do funk, que sempre foi conhecido como ostentação.
Ela é negra, gorda, de periferia e lançou um disco que está bombando no Brasil inteiro, vamos ver por esse lado, porque sozinha no seu quarto, você também xinga a mana que ficou com seu namorado ou namorada. Todas nós nos contradizemos, estamos aqui para escurecer o caminho, tornar tudo mais íntegro.
Força Mc Carol, estamos contigo, preta.
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