Observar e absorver
No último dia de 2016 um pai matou a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas. O motivo: vingança pelo filho, a mãe não deixava o pai vê-lo. Isso é feminicídio
No último dia de 2016 homens vestidos de papai Noel entraram numa boate em Istambul, na Turquia, e mataram 39 pessoas lá dentro. Isso é terrorismo
Em 2016 acompanhamos cenas chocantes de bombardeio em Aleppo, cidade da Síria que sofre com a guerra. Guerra entre ocidente e oriente, causada pelo petróleo e divergência política-religiosa.
Relembro esse pontos chocantes para poder falar o que vim falar. Tudo isso que aconteceu, eu e mais zilhões de pessoas lemos na internet, no Facebook. Sofremos virtualmente, e deixamos o sofrimento parado no "curtir". A informação chega, rola o mouse pelo feed, vemos a informação, lemos a manchete, salvamos para podermos entender mais tarde, curtimos, ás vezes comentamos alguma coisa, e passamos o mouse de novo para descer o feed.
É assim o dia inteiro.
Ultimamente ando sentindo algo estranho. Não é angústia, nem agonia, talvez uma frieza que não existia até refletir sobre. O fato é que estamos observando muito, e todas essas tragédias que aconteceram recentemente estão enraizadas dentro de mim. Parece que ao ler as manchetes e as coisas, as letras saltam da tela do computador e mergulham na minha retina. Não sou a única. Sou?
Depois de conter as letras, os números, as fotos das matérias do Facebook, começo a ter a sensação de estar passando um terremoto no estômago, bem ali no centro da barriga. Uma reviravolta acontece dentro do corpo, no eu invisível que sente tudo isso, e então chega a pergunta: O que fazer com tudo que absorvi? O que fazer com emoções humanas e atos humanos? Como compreender que toda guerra é composta por gentes que defendem um lado, que matam por ideias?
E então, já faz dias que durmo com essas perguntas no travesseiro. A existência deve ser apenas para apoiar a resistência alheia. Uma que não mate, que não cegue, que não roube a voz. Tudo acontece debaixo de um céu azul e celestial. Tudo acontece enquanto fogos de artifício estouram e assustam bebês e cachorros. O que fazer com tudo que absorvi?
Vejo que viro um vegetal-virtual. Absorvo os nutriente, me faço maior, mais sabida e mais atualizada, porém apenas isso não basta. Não basta me fazer mais verde. O que fazer com tudo que absorvi?
Como ajudar Aleppo? Assim fico o dia inteiro. A impotência humana, que só surge quando entendemos a necessidade do outro. Germinando na parte central da cabeça.
Hoje, minha existência se dá num fio tênue entre ser impotente, não conseguir ter dedos longos suficientes para acarinhar as crianças no bombardeio, e ser humana por sentir que tenho que ajudar... De alguma forma, não podemos só observar e absorver.
Como?
No último dia de 2016 homens vestidos de papai Noel entraram numa boate em Istambul, na Turquia, e mataram 39 pessoas lá dentro. Isso é terrorismo
Em 2016 acompanhamos cenas chocantes de bombardeio em Aleppo, cidade da Síria que sofre com a guerra. Guerra entre ocidente e oriente, causada pelo petróleo e divergência política-religiosa.
Relembro esse pontos chocantes para poder falar o que vim falar. Tudo isso que aconteceu, eu e mais zilhões de pessoas lemos na internet, no Facebook. Sofremos virtualmente, e deixamos o sofrimento parado no "curtir". A informação chega, rola o mouse pelo feed, vemos a informação, lemos a manchete, salvamos para podermos entender mais tarde, curtimos, ás vezes comentamos alguma coisa, e passamos o mouse de novo para descer o feed.
É assim o dia inteiro.
Ultimamente ando sentindo algo estranho. Não é angústia, nem agonia, talvez uma frieza que não existia até refletir sobre. O fato é que estamos observando muito, e todas essas tragédias que aconteceram recentemente estão enraizadas dentro de mim. Parece que ao ler as manchetes e as coisas, as letras saltam da tela do computador e mergulham na minha retina. Não sou a única. Sou?
Depois de conter as letras, os números, as fotos das matérias do Facebook, começo a ter a sensação de estar passando um terremoto no estômago, bem ali no centro da barriga. Uma reviravolta acontece dentro do corpo, no eu invisível que sente tudo isso, e então chega a pergunta: O que fazer com tudo que absorvi? O que fazer com emoções humanas e atos humanos? Como compreender que toda guerra é composta por gentes que defendem um lado, que matam por ideias?
E então, já faz dias que durmo com essas perguntas no travesseiro. A existência deve ser apenas para apoiar a resistência alheia. Uma que não mate, que não cegue, que não roube a voz. Tudo acontece debaixo de um céu azul e celestial. Tudo acontece enquanto fogos de artifício estouram e assustam bebês e cachorros. O que fazer com tudo que absorvi?
Vejo que viro um vegetal-virtual. Absorvo os nutriente, me faço maior, mais sabida e mais atualizada, porém apenas isso não basta. Não basta me fazer mais verde. O que fazer com tudo que absorvi?
Como ajudar Aleppo? Assim fico o dia inteiro. A impotência humana, que só surge quando entendemos a necessidade do outro. Germinando na parte central da cabeça.
Hoje, minha existência se dá num fio tênue entre ser impotente, não conseguir ter dedos longos suficientes para acarinhar as crianças no bombardeio, e ser humana por sentir que tenho que ajudar... De alguma forma, não podemos só observar e absorver.
Como?
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