Por que eu odeio a USP ? #1

by - 21:05





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Entrar na USP foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Lembro-me de quando saiu a primeira lista e eu não fui chamada, chorei horrores, me contentei com alguns meses de cursinho... Porém, veio a segunda chamada e lá estava meu nome. Recarreguei a página inúmeras vezes, achando que eles tinham errado.
Não tinham. Fazem 4 meses que estou dentro da USP, e já odeio.
Primeiro, achei que tinha dado sorte em entrar na FFLCH, por ser um lugar só com gente bacana, pensante, libertária e tal. Logo fui percebendo que não era bem assim, ali todo mundo é meio doente, meio maluco. A fila do café lota, as pessoas gritam, as pessoas falam loucamente, as pessoas não se conhecem, as pessoas são brancas. É curto o intervalo, 20 minutinhos que passam voando. 20 minutinhos para combinar que horas vamos sair para comer, que horas vamos sair pra fazer um esquenta. Arquitetando planos. Uma primeira imagem é passada para os calouros: somos todos amigos felizes. Não bebês, não é assim que acontece.
Na faculdade está todo mundo meio estressado, meio caduco, meio criança, meio depressivo, meio ansioso, tudo ao mesmo tempo acontecendo dentro de um corpo de um ser humano que tem no máximo 25 anos (falando das gentes do meu curso, que é matutino). As pautas são tão distantes, a unica coisa que importa na vida acadêmica é a nota e o trabalho científico. Isso, porque estamos lá para ingressarmos na sociedade com um conhecimento privilegiado e de ponta.
Aguentar o ambiente universitário também não é tranquilo. Além das pessoas estarem a mil com coisas para fazer, com coisas para criar, com coisas para gostar, com coisas para ler, todos ali estão sendo sugados pelo sistema, sendo massacrados pela própria universidade. Conviver em um prédio aos pedaços, conviver com professores desrespeitosos, conviver com alunos preconceituosos, conviver com inúmeros militantes que não entendem nada, conviver com a comida do bandejão. Conviver.
É tênue a linha entre dormir tranquilo e dormir afoito. É tênue a linha de dormir.
Meu ódio pela USP não é o ódio pelas pessoas que estão ali, porque algumas me dão bom dia e são boa companhia, algumas realmente me querem bem, e eu realmente as quero bem. Meu ódio vem de ter que lutar, mais uma vez, por direitos básicos, por questões primárias. Por que a USP não tem cotas? Meu ódio vem de ver uma maioria branca. SIM, A USP É BRANCA PESSOAL, ELA TEM UMA COR FAVORITA.
Travar eternas lutas com os representantes dos alunos, com as burocracias, com as notas, com os colegas de trabalho em grupo, comigo mesma. Travar esquemas de burlar tudo.
Contagem de créditos. Contagem de dinheiro.
As dores se acumulam em nossas costas, só percebemos quando estamos sentados na carteira, na última aula, procurando entender porque o I é nasalizado.
Fora os amigos que não conseguem ter, plenamente, uma permanência estudantil. Porque a USP nega bancar as mentes pensantes que vem da periferia, que não tem lugar para morar, que precisam do CRUSP, do bandejão, de tudo isso.
E a gente só quer cotas.

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