Sólida e sozinha - o ódio ao macho !
Ultimamente, venho conversando com uma amiga sobre homens. Como nos portamos em relação aos homens, e melhor ainda, como eles se portam em relação a nós. É quase impossível desvincular essas questões da luta feminista, então resolvi tecer um texto sobre como percebi que seguir carreira solo é um escolha minha, é uma escolha não minha, é uma posição política e é um fado afetivo.
Talvez, a primeira coisa que irrita nos relacionamentos com homens é o fato deles sempre acharem que nós mulheres estamos predispostas ao desejo sexual. Que automaticamente, por termos um interesse neles, é óbvio que iremos querer sexo. Não, não é assim que funciona. Claro que algumas mulheres realmente querem transar logo que conhecem o garoto, e isso não tem problema nenhum, a questão aqui é projetar na mulher uma carga sexual que as vezes ela não tem, que as vezes ela não quer ter.
O fato de pressupor que queremos transar na primeira vez que saímos com o cara é opressor. Assim, como o fato de pressupor que queremos nos guardar também é opressor. "Ai meu deus Isa, então o que eu vou pensar?!", simples, em nada. Espera a mulher dizer que quer ou não quer, ou melhor, veja se você quer ou não quer e resolva isso internamente. Porque é muito machista querer obrigar a mina a saciar apenas os seus desejos.
A preguiça reside ai. Nesse potencial masculino de assumir o que as mulheres querem antes mesmo de sair com elas, de conhecê-las realmente. De olhar no olho, de saber o que ela pensa. E muitos machos usam do discurso feminista para apoiar essas projeções em nossos corpos. A falácia da liberdade sexual, em que é implícita a nossa vontade incessante de sair fazendo sexo. Com as meninas que converso sobre esse assunto, a vontade está muito mais em sair para conversar sobre várias coisas, pra dançar, pra ir ao cinema, pra tomar cerveja, do que para propriamente transar. Mas, também existe o desejo sexual, porém ele não vêm sozinho, é carregado com tudo isso.
É um controle absurdo no nosso corpo, que nos faz ficarmos paradas, em estátua, esperando um cara que não faça isso. E esse controle é muito perverso, porque ele defende que o movimento de interesse pela coisa carnal deve vir estritamente do homem, assim como o interesse intelectual.
Logo, quando chamamos um cara para sair sempre ficamos insegura, porque sempre surge aquele famoso pensamento: "ele acha que queremos casar". A mulher tem a imagem da desesperada, e quando tenta a todo custo se aproximar com um cara que gostou, passa de paranoica, louca, apaixonada,e por ai vai. Mas ele, por outro lado, fica com a fama de fofinho, que deu bola, deu corda, e por ai vai....
É muito triste isso, porque tem muitos caras que eu queria chamar pra conversar, mas as minhas complexidades são tão grandes, tenho tanto receio no que os homens vão pensar, que decido sempre não falar, não demonstrar, não dar o primeiro passo. Isso faz parte do jogo. Um jogo muito opressor.
Quanto mais vivemos essas questões, quanto mais somos barradas por esse sistema patriarcal, quanto mais o homens nos julgam, nos fazem ficar inseguras, mais nos tornamos sozinhas. Sozinhas não fisicamente, mas mentalmente, espiritualmente. Não é porque somos feministas, que somos sozinhas. É porque somos mulheres em um sistema que nos controla e oprime. Mesmo em um relacionamento mais concreto, não ter voz, não tomar decisões, não tomar a frente, também é um silenciamento e uma solidão.
Porém, o que eu vejo, claro que sempre pegando como exemplo minhas vivências, é um movimento das mulheres ajeitando essa solidão. Arrumando a casinha fria que construiu. Como se fosse assim: "tá, agora que sou sozinha, não tenho mais paciência, preciso saber como viver". Sim, nós vivemos. Nos atrelamos a outras coisas, redirecionamos o desejo para outros aspectos. Sabemos que com qualquer cara que iremos nos relacionar as chances de sairmos mais machucadas, mais enrijecidas, é muito alta. Então, por que se relacionar? Por que iniciar qualquer coisa em sua voz será silenciada?
E essa solidão é cada vez mais concreta, mais palpável. O escape é se reunir com as amigas para falar mal do último homem que beijamos, porque ele pensou que trocar mensagem sobre sexo era legal. Porque ele imediatamente decidiu que queríamos isso. E assim a gente vai subindo essa fortaleza nos nossos desejos, nas nossas atrações, nos nossos coraçãozinhos.
Não somos chatas, não é isso. Só queremos algo simples: não projete em mim aquilo que eu não demonstrei.
E as coisas são tão frágeis. O jogo é tão superficial. Tudo deve ser planejado para mostrar menos interesse para a pessoa ter mais interesse. Qual a lógica disso?
Enfim, ser uma mulher sólida e sozinha é uma escolha para não me machucar, é uma consequência desse comportamento que, infelizmente, não irá mudar tão cedo. Apenas quero pedir: homens nos permitam não ser suas abstrações sexuais, seus objetos sexuais, seus instrumentos de poder. Queremos só ser, e isso está acontecendo excluindo vocês.
Lembrando que eu estou solteira e o sol está em câncer.
(Imagem de Edward Hopper)
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