Joyce
desenho de Muha Brazila
joyce era menina boa, como dizia sua mãe sempre que a vizinha perguntava. era difícil encarar o mundão desses, que se tem vontade de comer e comprar toda hora, era isso que joyce dizia toda vez que a mãe perguntava sobre o menino. ele tinha uns 18 anos e vivia com joyce. era uma família de dois. ela era feliz com aquilo que decidiu bancar.antes de pular da janela, joyce estudava todos os dias na escola do bairro ia e voltava sozinha porque não podia pagar condução. mesmo a escola sendo do lado era uma caminhada longa até chegar na casa do coração do morro. pelo menos quando chegava encontrava a mãe descascando laranja e puxando a orelha da irmã mais nova de joyce, a mirella. pois é, a rotina de joyce nera fácil mas era gostosa, a menina ficava matutando sobre isso. ia e vinha toda hora da quebrada pra ir pegar livro, falar com professor. as vezes, tomava o ônibus até o centro pra assistir um show de graça, voltava tarde pra casa ja brigando com a mãe no celular. o pai não existia, sumiu. como ela mesma dizia foi ali comprar um cigarro, que maço é esse que te levou painho?pois bem, sucumbiu.
nesse vai e vem de joyce pra escola pra trabalho de bico na lojinha pra show no centro pra mercadinho, a menina passava na frente de uma boca. na boca tinha o menino que hoje é o seu amorzinho. foi na boca ali que joyce conheceu o dani, danipreto, negochave, pretinho, café, chorinho, cabelinho, verdinho. todos esses nomes eram os nomes do daniel da silva, filho de seu chico da silva e filho de dona ivone, mestre de cerimonia do samba da favela e cozinheira da sinhá arminda, que era diretora da escola ali da comunidade. dani trabalhava de manhã na boca atendendo os sinhozinho e os moleques que roubavam o pessoal do centro pra conseguir comprar roupa para ir pra igreja, e de noite tirava uma folga pra estudar no supletivo da escola da comunidade. a coisa era que dani não era bobo, dona ivone tinha certeza que o filho ia ser alguém na vida, até lavou ele com cândida uma vez pra ter certeza disso tudo. dani ia estudar e fazer uma faculdade. ia trabalhar muito e comprar um puxadinho ali do lado que o vizinho ia vender. ia casar ter um filho e um carro. ia morrer com 60 anos por conta do cigarro e da bebida debaixo do armário.
mas aconteceu que dani ficou de olho na joyce que passava ali todo dia. ele ficava olhando como a coxa dela era desproporcional para uma menina daquela idade tão novinha. ele ficava olhando o cabelo dela crespo igual o dele começar a ficar crespo mesmo porque ela tinha alisado então estava metade crespo e metade liso. ele achava aquilo muito bonito. ele ficava olhando como o sutiã apertava a barriga o comecinho. mas como ela tinha peitos redondinhos. ele ficava olhando o lábio carnudo e se perguntava porque nunca tinha beijando uma menina daquela morenitude que ele amava.
ai um dia ele gritou morena e ela olhou torto. sou morena não menino, vê se para ela gritou brava, mas no final da frase abriu sorriso. eu que sou bobo pretinha, vamo ali. então eles andaram juntos até uma esquina seguinte da boca. naquele momento dani, filho de dona ivone, colocou a vida em risco porque ele sabia que não podia deixar a boca. o franklin tava ali.
o menino encostou na parede e ela também. ele tava fumando um cigarro e ofereceu a ela um trago, joyce não era daquilo, ele olhou ela de cima pra baixo de ela se sentiu muito mal. depois foi colocando a mão no ombro, porque dani via o tio fazendo isso com umas mulheres estranhas que ele levava pra casa. elas não tinham nome. ele chamava de mulheres sem nome. e joyce nao tinha nome ainda, era so a pretinha. a mão no ombro fez joyce descolar da parede e ficar de frente pra ele assim de maneira a afrontar aquele pedaço de carne. ela ergueu o nariz, que nem a menina da malhação. que cê quer moleque? eu quero é saber se você não vai no baile hoje de noite novinha? vou nada, tenho estudo. ah, vai sim, te pego onde fica seu puxadinho? nem vou, teu nome? é dani. tá dani, nem vou. que horas? mas. umas oito horas aqui na boca. fechado pretinha.
ela não podia aquele horário que tinha combinado pois tinha que jantar e depois arrumar a tv pra mãe ver as coisas. mas ela queria mesmo era perder logo esse medo e ir pro baile. ela nunca tinha ido e a amiga disse que era legal que os meninos pagavam coisas. joyce nunca tinha beijado um menino e por algum motivo a calcinha tava meio úmida depois de falar com aquele dani. ela pesquisou e viu que era só suor do corpo mesmo. dani tinha mexido com a água que tava dentro dela, pensou. isso ja eram quase oito horas.
a mãe estranhou a menina de perfume colocado. onde vai joyce? lugar nenhum mãe, to cheirosa porque quero viu?hm. a menina pulou da mesa sem sequer lavar o prato. subiu rapidinho disse que tinha muito estudo não podia demorar. mas foi trocar a roupa e pular da janela do quarto. da janela do puxadinho, o que dividia a janela do quarto com a cozinha era o guarda roupa da mirella. por isso a mãe viu tudo mas não falou nada, tinha a certeza que a menina ja tava grávida, já era hora , olha o tanto que não comeu passando perfume isso é coisa de hormônio de grávida, pensou.
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